Assassinato em Fita!

— E o que estava na fita?

— Vou ler a transcrição que o pessoal da perícia fez.

“Estou ouvindo o estampido de tiros do lado de fora. Um urro do monstro que me persegue aquele dia. A única forma que tenho para deixar registrado o que aconteceu é através deste gravador antigo. Hoje completei 13 anos. Eu pulei o muro de uma casa qualquer, a ação era rápida, roubar alguns reais e despojar tudo o que tinha de valor. A casa não era chamativa, mas eu ouvi alguém comentando em um bar que o tio dele iria viajar e que ele ficou de ir lá no final da tarde para pôr água e comida para o gato. A luz prateada no alto do céu iluminava o quintal gramado com um jardim plantado. A porta era daquelas antigas, madeira maciça, impossível arrombar no pé, era necessário desvendar o segredo da fechadura. Tirei meu material e fui descobrindo o segredo da tranca. Fácil, estou dentro. O interior da casa não era grande, mas a forma como as coisas estavam despostas no ambiente, dava a impressão de ser uma casa grande. Eu lembro que a sala e a cozinha dividiam o mesmo cômodo.Cada passo foi dado com o máximo de cuidado e às vezes eu preciso lembrar de respirar. A tensão preenchia o ar, os ossos resolvidos estalar a cada passo. Eu fiz a mim mesmo para ficar tranquilo, o trabalho estava no papo. Abra a porta do quarto bem devagarzinho. Me esgueirei para dentro, foi quando senti uma pancada forte na cabeça. Cai de cara no chão. Me virei rápido, ainda zonzo. Um cara veio para cima de mim. Ele parecia um monstruoso, 1,90 de músculo puro, eu não teria chances contra aquela cara. Ele se encaixou no meu tronco e começou a desferir diversos golpes pesados, tentou desviar o máximo que pude, defendendo alguns com a mão esquerda, enquanto outros passavam e me acertavam em cheio. Senti o gosto de ferro na boca e um líquido espesso escorrendo pelo nariz que latejava, não senti nenhuma dor, a adrenalina estava no máximo. Por pouco eu não consigo alcançar a faca que estava presa na minha cintura. Uma estocada na parte baixa das costas do monstro de músculo fez ele urrar e cair para o lado. Me desvencilhei dele e peguei o .38 do coldre. – Fica de joelho, filho da puta, anda seu puto. – A luz da lua que ver pela janela aberta revelava o olhar sanguinário do maldito. Era a mesma cara que eu tinha visto no bar. — O que você está fazendo aqui, sua merda? — Não houve resposta. De repente, os olhos dele olharam para trás de mim, um ato simples que revelou o perigo oculto. Me virei rápido, quando um grito agudo e vi uma silhueta ouvindo magra segurando uma faca de cozinha, não houve tempo para pensar. (Uma voz gutural ao fundo no áudio) A sombra caiu no chão, dois tiros no peito colocam qualquer ameaça em seu devido lugar. O gigante bufando de ódio. Me virei e atirei, o primeiro tiro, ele caminha continuamente; segundo tiro, os passos seguiram em minha direção; no terceiro tiro, ele cambaleou para o lado; no quarto tiro, ele caiu sobre o joelho direito. Os olhos dele… Ainda me lembro do olhar de puro ódio. Ele se manteve em pé. Quinto e sexto tiro,sem chances,ele não pode mais se levantar. — Você cometeu seu maior erro — As palavras dele se sufocaram em meio ao sangue. — Você queria atrasar o meu lado, agora vai ficar pior para você, vou te perseguir por todos os lados. Vou ser um encosto, vou adoçar a sua sanidade, não há local no mundo onde você possa se esconder de mim. Você assinou sua sentença de morte. — O desgastedo morreu com os olhos imobiliários em mim. O ódio e o rancor emanavam de seus olhos escuros. Não levei nada daquele lugar. Ele está aqui. (Som de porta sendo arrombada. Ouve-se a voz do narrador gritando em desespero: Não, não, sai de perto de mim, socorro! Socorro! O grito se transforma em grunhido e um gemido baixo. Ouve-se som de mastigação. Silêncio. Fim da gravação).”

— Bizarro, o que houve com o corpo?

— No quarto de cima da casa, estava irreconhecível. Segundo o legista, tem marcas de mastigação por todo o corpo, não foi identificado que animal seria capaz de fazer aquilo, ele estava estraçalhado. Ah, filha da puta! Vai resolver a porra da porta mesmo? Verifique quem é o idiota que está batendo na porta.

— Puta merda, é ele!